
Essa sessão do site traz críticas escritas por Júlia Cruz. As críticas apresentadas dão um destaque em especial para a palheta de cores utilizada em cada filme.
Manchester à beira-mar

Após a morte de seu irmão, Lee Chandler (Casey Affleck) precisa voltar a sua cidade natal para cuidar de seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges). O retorno é dificultado diante dos problemas do passado que fizeram Lee deixar o lugar. O filme é o terceiro longa do diretor Kenneth Lonergan, lhe rendendo sua primeira indicação ao Oscar de melhor diretor em 2017 e ganhador do Oscar melhor roteiro original, pois Lonergan também assina o roteiro do filme. Aqui, ele faz um eficiente trabalho de mostrar a complexidade humana em questão ao perdão, problema evidenciado nos personagens de Affleck e Michelle Williams. Lonergan também controla bem o ritmo do filme, fazendo com que o espectador não se canse durante as 2 horas e 17 minutos. A história não se preocupa em mostrar grandes acontecimentos, o foco é no estudo de personagem e no drama vivido por Lee. O sentimento dramático é ressaltado pela música sombria, o clima frio e a palheta de cores, que utiliza muito dos tons escuros das cores análogas azul e verde, além da complementar do azul, laranja, mas aqui chegando quase a um marrom, o suficiente para destacar as cenas, mas sem torná-las feliz. O uso dessas 3 cores forma uma harmonia complementar dividida. Na sessão "Espectro de cores" do site é possível aprender sobre sobre o esquema harmonia complementar dividida. O uso de azul e laranja também pode ser visto nas sessões "Vídeos" e "Poster Fantasia", além das críticas dos filmes A chegada e Mulher-Maravilha.
A atmosfera sem vida do filme é conduzida com maestria por Casey Affleck, que entrega em sua performance a angústia um homem que não encontra mais motivos para viver. O Oscar de melhor ator foi merecido, o primeiro na carreira de Affleck. No filme, Michelle Williams interpreta Randi, mas sua personagem recebe pouco tempo de tela, o que é um pena, visto que Williams entrega todas as suas cenas com perfeição. Uma delas, no entanto, tem o claro intuito de fazer o espectador chorar. Críticos mais ríspidos podem se incomodar com o objetivo da cena, mas espectadores sem compromisso irão se sentir tocados pela atuação. Vale a indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, mas fico feliz que não tenha ganhado. Lucas Hedges, por sua vez, se encontra operante no filme, bem, mas encoberto pelas atuações poderosas do resto do elenco. Desnecessária sua indicação ao Oscar. O maior problema do filme é a falta de representatividade feminina, não passando pelo teste de Bechdel, que considera os seguintes pontos: 1. Deve ter pelo menos duas mulheres. 2. Elas conversam uma com a outra. 3. Sobre alguma coisa que não seja um homem. O teste parece simples, e de fato é, mas dos 9 filmes indicados na categoria melhor filme do Oscar 2017, apenas 2 passaram.
Nota: 4.5/5






A Chegada

Dr. Louise Banks (Amy Adams) é professora de linguística nos Estados Unidos. Após uma cápsula de fora da Terra adentrar o território estadunidense e de outros 11 países, ela é recrutada pelo exército para estudar a língua desses seres e seu propósito no planeta. O filme é dirigido por Denis Villeneuve, responsável por Sicario e Blade Runner 2049. Um ótimo diretor, mas talvez seus filmes não sejam apreciados por todos, visto que não possuem o ritmo que Hollywood nos condicionou a achar o ideal. Aqui ele tem toda paciência do mundo para contar sua história, e deixar nítido para o espectador seus objetivos e conclusões. Outro mérito de Villeneuve é acreditar no potencial do seu público, não tratando o espectador como idiota e deixando que ele interprete o filme da sua maneira. Chega de cenas em que um cientista explica para outro o que é um buraco de minhoca. O espectador merece mais que isso. Merecidíssma sua primeira, e única até então, indicação ao Oscar. Sua derrota só é justificada pela direção fenomenal de Damien Chazelle em La La Land. O filme, inclusive, foi indicado em 8 categorias no Oscar 2017, mas só levou uma, a de melhor edição de som (mais uma vez merecido, já que a música dita o tom e o ritmo do filme). Entretanto, o Oscar fez uma das maiores injustiças da história, não indicando Adams para melhor atriz. Ela carrega o filme nas costas e sua performance mostra a sutileza e a complexidade da mulher que pode ter o futuro da Terra em suas mãos. #JustiçaparaAmyAdams
A cor do filme é um destaque a parte, utilizando uma harmonia complementar dividida de azul escuro, verde e laranja, os tons militares. Na sessão "Espectro de cores" do site é possível aprender sobre sobre o esquema harmonia complementar dividida. O uso de azul e laranja também pode ser visto nas sessões "Vídeos" e "Poster Fantasia", além das críticas dos filmes Manchester à beira-mar e Mulher-Maravilha. A estética militar casa com o ambiente militar, trazendo uma sensação de unidade para o filme. Jeremy Renner e Forest Whitaker também estão no longa e cumprem sua missão muito bem, mas sem grande destaque. O filme perde um pouco de sua força ao estrar no esquema hollywoodiano de retratar os Estados Unidos como um país mais lógico e sensato para liderar os outros, mas nada que estrague sua qualidade.
Nota: 5/5




Capitão Fantástico

Ben (Viggo Mortensen) cria seus 6 filhos em uma floresta longe da sociedade capitalista que o cerca. Ele preza pela educação intelectual, espiritual e corporal dos filhos em virtude dos ensinamentos massificados pela sociedade. Após uma circunstância (que não vou falar qual porque pode ser considerado spoiler), a família é obrigada a retornar para o cenário urbano e enfrentam uma dura realidade e o choque de cultura. O filme é escrito e dirigido por Matt Ross, que faz um bom trabalho em mostrar as culturas diferentes e os benefícios e malefícios de cada uma delas. Entretanto, por boa parte do filme essa estrutura não está balanceada, mostrando, na maioria das vezes, uma certa superioridade de Ben e sua família, sem considerar que há outras formas de inteligência sem ser a acadêmica. (Pequeno spoiler) Ross também torna a decisão de Ben de rever seus conceitos um pouco abrupta demais, forçando no roteiro um grande acidente, sendo que era possível, e até mais realista, continuar mostrando nos detalhes como o choque de cultura afetou seus filhos, como estava sendo feito com os personagens Bo (George MacKay) e Rellian (Nicholas Hamilton). Mas, dentro do roteiro do filme, e considerando a personalidade da família, a situação criada é até explicável, incomodando apenas aqueles que pensam muito sobre o filme depois dele acabar. (Fim do pequeno spoiler)
O filme fez uma boa campanha na temporada de premiações 2016-2017, incluindo um indicação ao Oscar para Mortensen. Aqui ele interpreta um homem amoroso com seus filhos, mas duro com o restante da sociedade, sempre mostrando o quanto está convicto de suas ideias. Uma indicação merecida. Mas os filhos também merecem destaque por suas atuações, convencendo o espectador de que eles são, de fato, uma família. Tornando o amor e preocupação que sentem uns pelos outros palpável. O filme tem uma estética bonita e agradável aos olhos, ressaltando a natureza com suas cores vibrantes Na sessão "Vídeos" do site é possível aprender sobre a manipulação de cor, saturação e brilho das cenas, com foi usado no filme para ajudar a ilustrar o estilo de vida excêntrico da família. (Spoiler) Na cena do enterro essa ilustração se faz mais presente. Enquanto todos estão vestindo preto e branco, Ben chega com um termo vermelho vivo, causando uma estranheza para os presentes no local e para o espectador. A roupa dos filhos também segue a mesma lógica, sem as cores convencionais. Uma das crianças, inclusive, usa uma máscara de gás no rosto, mostrando para aquelas pessoas que essa é a roupa formal dela. (Fim do spoiler)
O filme tem alguns minutos a mais que o necessário. Ele poderia acabar muito bem em uma cena de celebração em família (aliás, essa cena pode te fazer derramar algumas lágrimas). Apesar das críticas feitas, o filme executa bem sua proposta. Você compra a história e se importa com o futuro dos personagens, te deixando sempre envolvido.
Nota: 4.5/5





Mulher-Maravilha

Diana Prince (Gal Gadot) é uma guerreira amazona da ilha de Themyscira. Após o piloto Steve Trevor (Chris Pine) entrar na ilha, Diana descobre que uma guerra está acontecendo e decide ajudar na resolução do conflito. Esse é o primeiro filme de ação dirigido por Patty Jenkins, seus trabalhos anteriores foram principalmente na TV. Aqui ela mostra que ainda há muito o que melhorar, como no uso excessivo de câmera lenta e a cor das cenas de batalha (que será comentado mais para frente), mas que está no caminho certo. Nenhum filme de super-herói pede atuações dignas de Oscar - o Coringa de Heath ledger é um ponto fora da curva - apenas se espera atuações convincentes mediante a história contada, e a Gal Gadot faz um bom trabalho. Gadot não é a melhor atriz do mundo, mas ela passa a força e a ingenuidade da Diana. E essa ingenuidade é o principal ponto de humor do filme, que começa a se afastar do tom sombrio e realista da DC de Zack Snyder. Contudo, esse humor não é perfeito, tendo um momento de comédia pastelão que destoa do resto do filme. A direção fraca das cenas e ação, combinada com um CGI duvidoso, poderia tirar o espectador do filme, mas a trilha sonora da mulher-maravilha tocando ao fundo o deixa preso.
O filme pode ser dividido em 3 momentos visuais: a parte da ilha, quando Diana vai para a guerra e o ato final. Em cada momento a qualidade estética do filme cai. O início em Themyscira é muito bom, com cores vivas ressaltando a natureza. Na sessão "Vídeos" do site é possível aprender sobre a manipulação de cor, saturação e brilho das cenas, com foi usado no filme para mostrar a natureza. O segundo momento adquire uma imagem mais escura, adotando uma paleta de cor em tom militar. Por um lado, esse novo tom ajuda a mostrar os horrores da guerra, por outro, tira um pouco do encanto do filme. O ato final é um desastre, sendo utilizado praticamente as cores preta (simbolizando a noite) e laranja (simbolizando o fogo). Além disso, o filme todo abusa do contraste entre as cores complementares azul e laranja. Na sessão "Espectro de cores" do site é possível aprender sobre sobre o esquema complementar. O uso de azul e laranja também pode ser visto nas sessões "Vídeos" e "Poster Fantasia", além das críticas dos filmes Manchester à beira-mar e A chegada. É no ato final que fica evidente os problemas do filme, mostrando um vilão que tenta ser grandioso demais junto a cenas que tentam ser grandiosas demais. Apesar de todos os problemas, Mulher- Maravilha é um filme empolgante, bem conduzido em relação aos atos e consequências dos personagens e extremamente representativo. E, junto de Shazam!, formam os melhores filmes do universo estendido da DC nos cinemas.
Nota: 4/5





